De mim para a personagem
Gostaria de me pronunciar pela primeira vez neste século. Gostaria de falar sobre todo meu amor enterrado, subjugado, duvidado tantas vezes. Bradam que eu não amo, me chamam até de tirana, vil e todas as alcunhas imagináveis. Ah, meus amores, eu sou inteira amor e zelo. Sinto como se toda humanidade tivesse saÍdo do meu ventre e acompanho, silenciosamente e de modo muito respeitoso, os passos de cada um dos meus filhos. É de mim que tudo começa e é em mim que tudo acaba ou recomeça. No meu beijo e abraço eu encerro o ciclo que o tempo ordenou. É ELE o tirano e vil! Ele que comeu os próprios filhos, que duramente risca tudo e entrega todos em meus braços, vitoriosos, esquecidos e cansados. Eu pacifico as revoltas d´alma, amenizando os castigos do Tempo e do Destino. Agora estou te seguindo, pra onde vais. Sei do que tens medo e do que te angustia - sei também do que guardas adormecido dentro do coração e que não podes deixar visto. Sei e te amo com todas as tuas faltas (as que fizestes e farás). Jamais te abandonarei... Estou, inclusive, te guiando para os lugares que deves ir. Só que tu não sabes que a moça que cruza a rua e te pede ajuda, ou aquele que te oferta um emprego e te faz mudar de cidade, ou aquele pássaro que voa um pouco mais baixo, te faz virar a cabeça, e notar o amor da sua vida...tu não sabes que sou eu. Estou te trazendo para meus braços e quando finalmente te ter, terás paz e descanso. Viver é muito cruel, às vezes. Sei da coragem necessária para amanhecer todos os dias. Tu és meu bravo guerreiro, que me dás forma e me faz existir e ter uma razão... Estou orgulhosa de ti, dos teus fortúnios e desfortúnios. Quando repousas a cabeça cansado, não orgulhoso do que és, perdido e cheio de dúvidas, sou eu que me deito ao teu lado. Estou pronta caso você venha até mim. Caso você queira pular do último andar da casa, eu te darei a liberdade. Te recompensarei te separando da vida e te entregando uma outra.