Martin “Knocker”
Thompson dificilmente seria um cavalheiro. Fora empresário de duvidosas lutas
de boxe e de partidas (amistosas) de pôquer, que já não deixavam a menor
dúvida. Faltava-lhe imaginação, mas não esperteza e certa habilidade. Seu
chapéu de abas curvas, suas polainas e o pregador de gravata de ouro, em forma
de ferradura, poderiam ser mais toscos, mas estava tentando despistar.
Nem sempre a sorte
ia favorecê-lo, mas o homem se defendia. A explicação não era difícil: “Para
cada tonto que morre, nascem mais dez”
- (...)Quer comprar
um jornal? Garanto que não é como os outros.
- Não estou
entendendo. Como assim, não é como os outros?
- É o Eco de
amanhã à noite – disse o velho calmamente.
- (...)Não quer
levar este jornal? Não há outro igual no mundo. Nem haverá, por vinte e quatro
horas.
- Claro. Se só vai
aparecer amanhã – disse Knocker, sarcástico.
- Tem os vencedores
de amanhã – disse o outro com simplicidade.
- Está mentindo.
- Veja você mesmo.
Aqui estão eles.
Um jornal saiu da
escuridão e os dedos de Knocker o aceitaram, quase com medo. Uma gargalhada
retumbou no portão, e Knocker ficou sozinho.
“Quinta-feira, 29 de
julho de 1926”, leu.
Pensou um pouco.
Hoje era quarta-feira, tinha certeza disso. Pegou uma agenda no bolso e
consultou-a. Era quarta-feira, 28 de julho, último dia de corridas de cavalos
em Kempton. Não restava dúvida.
(trechos de Os
Vencedores de Amanhã, ANTOLOGIA DA LITERATURA FANTÁSTICA, p. 202 – 204)
- foto tiradas no
ensaio do dia 27/out/2014 durante improviso dos atores