POR BARBARA
RIETHE
Indicação
da diretora: Não se apegue ao conto, mas use a essência. DIVIDIR-SE.
O espaço: dois focos, dois corpos, um
homem, uma mulher. Dança de contração e distensão.
Tem
muita palavra e muita imagem dentro de mim. Tem tanto que eu preciso de tudo,
absolutamente, para me esvaziar. Preciso de todo o amor, de toda a vida, de
todo o risco, de todo o sonho e de toda a realidade, de todo o papel e palco.
Preciso sentir toda a alegria e toda a dor, sentir tudo, beber e comer tudo.
Preciso porque tem muita imagem e muita palavra dentro de mim... E eu corro o
risco de me repetir, ou de me transformar em tudo que tem aqui dentro, podendo
ser o início do meu desaparecimento. Não posso me
transformar em todas as coisas, preciso permanecer uma só, desta vez, com
integridade. Preciso fazer o esforço de DAR A VER e não SER VISTA; Dar a ver a
poesia do espírito e da alma, não da carne. É e não é religioso ao mesmo tempo.
Sinto que preciso matar o tempo com uma flecha feita de memória. Mas meu corpo
é tão frágil para tudo isso que carrega, meus olhos tão pequenos para tudo o
que vê... Parece, como agora, que vou explodir de volta para o que fui. Preciso
me manter no presente, dizer e mostrar o que vejo daqui. Você sabe o que é isso
que estou falando? Eu falo sobre o desequilíbrio.
Você não entende o
que é isso, ser dois. Ninguém nunca desconfiou? Que eu na realidade
vivo na crise de ser homem e mulher ao mesmo tempo? De ser eu e ele... De morar
em Guarulhos e sofrer por pegar o fretado todos os dias, e que por isso eu moro
na Avenida Jaguaré, e chego rápido no ensaio. E que acordo aqui no apartamento
me confundindo se estou aqui ou na minha casa em Guarulhos, porque estou lá e
aqui, porque meu Nome é Barbara e meu Nome é Felipe. Nunca ninguém percebeu que
nossos narizes não iguais? Que nós nunca olhamos no olho um do outro por muito
tempo. Porque se eu olhar para o meu olho eu me junto em uma só e desapareço.
As vezes eu sinto que minha mente vai
explodir, porque as vezes o meu eu daqui aparece lá e o de lá aqui, e eu
confundo as realidades, quando eu bebo muito álcool. E que eu odeio o fato de
os opostos não poderem coincidir.
Odeio
Que
Os opostos não possam
Estar juntos.
Odeio que duas matérias não podem
ocupar o mesmo lugar ao mesmo tempo.
Por isso eu resolvi ser dois, e poder
ter tudo. Mas ao ter tudo eu tenho nada.
Porque um quer ser dois, e o outro que
ser um. E o um que eu sou, quando sou um, nada tem a ver com os dois que eu
sou.
Por favor, não mostre a ninguém minha
confissão, podem me internar, me achar louca. Mas a bem da verdade quem te
escreve é a Barbara. O Lipe, que também sou eu, agora está em Guarulhos comendo
feijão que a mãe dele (que é minha mãe porque eu também sou ele) fez com
galinha.
Guarde, amasse e jogue
fora. Jogar fora e guardar não é possível. Mas mal sabe você que você, sem
saber, também é dois. Eu sei disso porque eu te vi agora pouco aqui na esquina.
Como eu sei que era você, o seu dois?
Porque sim. E essa é a melhor resposta que tenho pra te dar.- fotos tiradas no ensaio do dia 28/jan/2015, por Luiza Meira Alves, durante improviso dos atores
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