POR
LIPE LIMA
No mês de junho, um ciclo se encerrou no Projeto
Dúvida: nasceu Fantasmagoria Carne,
nossa dramaturgia, escrita por Paloma Franca Amorim enquanto investigamos e
pesquisamos os contos e os materiais na sala de ensaio.
Durante esse período de pesquisa, algumas
chegadas e algumas saídas, com facilidades e dificuldades, investigamos,
improvisamos, experimentamos metodologias, procedimentos e, principalmente,
vivenciamos nossos materiais poéticos e provocadores.
Pudemos respirar, sufocar, engasgar nossos contos
e, depois disso, construir algumas certezas pra colocar em dúvida. Nenhuma certeza deve existir como ponto final. Se
há certeza é pra que exista a dúvida.
Começamos julho com muitos acontecimentos.
Nossa diretora, que nos acompanhou durante toda
primeira etapa do trabalho, precisou nos deixar e, de repente, nos vimos sem
uma diretora. Será o fim? Dúvida.
Exercer a dúvida em coletivo é um processo que
exige extrema generosidade e, ao mesmo tempo, radicalidade das certezas.
Pode parecer contraditório, mas quanto maior a
radicalidade da certeza, maior a potência da dúvida: choque, atrito e
embate.
Dito isso, depois de uma pausa e muita reflexão,
optamos iniciar essa segunda etapa do trabalho sem a centralização da figura do
diretor.
Nosso processo-duvidoso
vai pulverizar as escolhas: certezas serão colocadas em dúvida e dúvidas se
transformarão certezas a partir das provocações uns dos outros – cada um
dirigindo a si mesmo e o coletivo. Risco.
Como metodologia, convidaremos amigos e parceiros
para, periodicamente, nos visitarem em sala de ensaio e olharem a feitura do
trabalho. Vamos construir a peça sobre bases duvidosas, tramá-la sobre a
urdidura da incerteza e do questionamento constante.
E, pra não correr o risco de cair em teorizações
excessivas, os questionamentos serão feitos na prática, no domínio onde devemos
existir – a ação. A dúvida vai precisar existir no ar da sala, ar que todos
respiram.
Em setembro, no Tendal da Lapa, aqui em São Paulo, a gente faz
nossa primeira abertura de processo pública, pra quem quiser chegar, assistir e
também questionar. Queremos que o maior número de pessoas participe do nosso trabalho duvidoso e nos ajude a construir a peça nova.
A gente testa o que dá certo e o que não dá, juntos. Até lá, a gente
fica em dúvida - e isso não é algo ruim.
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