quarta-feira, 8 de julho de 2015

Registros de um processo em dúvida: pausas e reflexões

POR LIPE LIMA

No mês de junho, um ciclo se encerrou no Projeto Dúvida: nasceu Fantasmagoria Carne, nossa dramaturgia, escrita por Paloma Franca Amorim enquanto investigamos e pesquisamos os contos e os materiais na sala de ensaio.

Durante esse período de pesquisa, algumas chegadas e algumas saídas, com facilidades e dificuldades, investigamos, improvisamos, experimentamos metodologias, procedimentos e, principalmente, vivenciamos nossos materiais poéticos e provocadores.

Pudemos respirar, sufocar, engasgar nossos contos e, depois disso, construir algumas certezas pra colocar em dúvida. Nenhuma certeza deve existir como ponto final. Se há certeza é pra que exista a dúvida.

Começamos julho com muitos acontecimentos.
Nossa diretora, que nos acompanhou durante toda primeira etapa do trabalho, precisou nos deixar e, de repente, nos vimos sem uma diretora. Será o fim? Dúvida.

Exercer a dúvida em coletivo é um processo que exige extrema generosidade e, ao mesmo tempo, radicalidade das certezas.
Pode parecer contraditório, mas quanto maior a radicalidade da certeza, maior a potência da dúvida: choque, atrito e embate.

Dito isso, depois de uma pausa e muita reflexão, optamos iniciar essa segunda etapa do trabalho sem a centralização da figura do diretor.

Nosso processo-duvidoso vai pulverizar as escolhas: certezas serão colocadas em dúvida e dúvidas se transformarão certezas a partir das provocações uns dos outros – cada um dirigindo a si mesmo e o coletivo. Risco.

Como metodologia, convidaremos amigos e parceiros para, periodicamente, nos visitarem em sala de ensaio e olharem a feitura do trabalho. Vamos construir a peça sobre bases duvidosas, tramá-la sobre a urdidura da incerteza e do questionamento constante.

E, pra não correr o risco de cair em teorizações excessivas, os questionamentos serão feitos na prática, no domínio onde devemos existir – a ação. A dúvida vai precisar existir no ar da sala, ar que todos respiram.

Em setembro, no Tendal da Lapa, aqui em São Paulo, a gente faz nossa primeira abertura de processo pública, pra quem quiser chegar, assistir e também questionar. Queremos que o maior número de pessoas participe do nosso trabalho duvidoso e nos ajude a construir a peça nova.

A gente testa o que dá certo e o que não dá, juntos. Até lá, a gente fica em dúvida - e isso não é algo ruim.

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