POR LIPE LIMA
Flusser
diz que “um campo não é um quê, mas a maneira como algo ocorre” (p. 42), ou
seja, para construirmos um campo de dúvidas, precisamos investigar maneiras
como elas ocorrem. A condição fundamental que encontramos para que a dúvida
aconteça é dada logo nos primeiros parágrafos do livro de Flusser, A Dúvida.
Ele
diz: “o ponto de partida da dúvida é sempre uma fé. Uma fé (uma “certeza”) é o
estado de espírito anterior à dúvida” (p. 21). Dessa maneira, precisamos
trabalhar sempre sobre o binômio CERTEZA-DÚVIDA. Não é possível duvidar sem que
antes se estabeleça alguma certeza.
Como
em uma grande partitura, cada elemento da encenação trabalha com o binômio em
um pentagrama, determinando qual momento ele dá certeza e em qual momento ele
se coloca em dúvida. Para que isso ocorra, é preciso refletir o que é um “ator-duvidoso”, um “corpo-duvidoso”, uma “voz-duvidosa”, uma “luz-duvidosa”, uma “música-duvidosa”, um “cenário-duvidoso” um “figurino-duvidoso” e uma “dramaturgia-duvidosa” (essa última,
resultado direto do embate, harmônico ou não, entre o teatro e a literatura
fantástica - tradução, transposição ou adaptação).
Todos
esses elementos se articulam dentro da partitura, cada um com voz independente,
justapondo-se e compondo, por fim, a “cena-duvidosa”,
resultado polifônico dos gritos e silêncios de todas essas vozes.
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